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O ser humano irrita-me com frequência.
Nada de novo aqui. A minha fé na humanidade é tão pouca que só à custa de muito sarcasmo vou conseguindo sobreviver.
Sim, eu sei que somos seres gregários e que por isso mesmo fomos capazes feitos surpreendentes. Mas atrás dessa característica, vem outra profundamente opressora e potencialmente fatal. A “ditadura do método e da arrumação”.
Precisamos de estrutura, organização e lógica. Precisamos sobretudo que os outros à nossa volta professem a mesma ditadura e nos façam a cama porque, sei lá, fazê-la nós mesmos daria muito trabalho.
É assim com a religião, com a política, com as palavras e pasme-se, com os sentimentos.
A religião arruma-nos o desconhecido e até nos dá um manual de instruções para seguir. E ai de quem ousar questionar os dogmas!
A política arruma-nos os pontos de vista. O partido explica-nos a organização social e ostraciza os divergentes.
A hierarquia arruma-nos as palavras. As que podemos dizer numa prateleira, as proibidas debaixo do tapete para dizer em surdina.
As teses e os frameworks psicológicas arrumam-nos os sentimentos e por isso condicionam os atos e o espírito crítico.
Para tudo há um método que conforta quem o pratica. O conforto é a secreta alegria de que “estamos juntos nisto”. “Só nós é que sabemos”. “Somos uma espécie de iluminados”.
Esses frameworks, termo que usamos diariamente em programação, são frequentemente caminhos diretos para um poço escuro e fundo de problemas difíceis de resolver. Porquê? Porque contribuem para anular o pensamento crítico. “Não preciso de me questionar porque estou dentro do framework”, “O framework já resolve isso tudo”, como se se tratasse de mais uma bíblia cheia de postulados inquestionáveis e incorruptíveis.
E se isso acontece na programação, na vida e nos sentimentos é o mesmo; chamam-se os métodos. Aqueles que se seguirmos à risca garantimos o sucesso. Aqueles que são vertidos em pseudo livros de auto ajuda como se fossem receitas infalíveis. "180 passos para garantir a felicidade."
Siga o método do desapego! Paz e tranquilidade garantidas.
Não! Siga antes o método Yoga do mestre Canguru. 7 passos mágicos para o conhecimento!
Como não discutir com a mulher? Simples, use o método “Stonewalling”. Em 3 passos apenas, o sucesso é garantido.
Mas há sempre a versão com a pedra azul, cinzenta ou preta. Cada derivada assegura mais uma edição da coleção de auto ajuda.
É um mundo sem fim, cheio de “siência” sim com S. Cheio de praticantes e mestres certificados que nos salvam de pensar pelas próprias cabeças.
Um mundo cheio de flautistas de Hamelin prontos a levar o rebanho de ratos para uma indigência intelectual que raramente deixa as vítimas incólumes.
Prefiro aprender ouvindo, questionando, praticando e questionando tudo outra vez; nem que isso me dê uma série de nódoas negras.
Já me arrependi de tanta coisa, mas nunca de perguntar porquê.