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Pasta cds

 

Há quase um ano decidimos duas coisas importantes:

Ela achou que os CDs ocupavam imenso espaço em casa com as suas intermináveis estantes e prateleiras espalhadas pelos corredores.
Eu achei que era útil ter toda a colecção de música à distância de um click sem ter que perder tempos infinitos à procura "daquele" CD.

Durante algumas semanas uma nova palavra preencheu o léxico familiar.
O que estás a fazer gaja?
A "encodar" - dizia ela enquanto o leitor de CDs bufava.

Defina-se desde já o termo para que não haja margem para divagações.
Encodar, é um verbo cujo significado é: "transcrever algo para um formato de código"
Exemplo: "Hoje já encodei 3 seguidos"

Porque o resultado final foi fantástico e porque algures pelo meio cometemos alguns erros, achei por bem documentar passo-a-passo a operação "Encodar 2009". Espero que sirva de guia e referência para vós que ainda viveis entremeados em caixas de plástico ao invés de o reciclarem em coisas mais úteis como surpresas dos ovos kinder.

Preparação

Escolham um daqueles joguinhos viciantes do tipo bejeweled, pois dependendo da dimensão da besta irão passar largas horas agarrados ao computador.
Sugiro um joguinho (reforço o diminutivo) pois uma utilização mais agressiva da máquina pode comprometer os resultados finais; pior ainda, só o irão perceber no final do processo. Encodar é um processo delicado e sujeito a erros de leitura. Não vão querer as vossas máquinas (ou cabeças) ocupadas com tarefas muito complicadas.

Ingredientes

Assegurem-se que têm todos os ingredientes antes de começar. Apenas os marcados com um "asterisco" são opcionais nesta fase embora sejam recomendados para a última parte.

 

 


1 ou mais humanos

Alguém vai ter de andar a trocar os CDs, arquivá-los nas pastas, deitar fora os plásticos, arrastar as estantes, etc.
Escolham humanos pacientes e metódicos, daqueles que são muito arrumadinhos e não largam pelo.

 

 

2 discos suficientemente grandes

Como referência podem usar os nossos dados: temos 2413 álbuns dos quais 1800 em formato lossless (já explico) e cerca de 600 em MP3 maioritariamente a 320 Kb/s. Este espólio ocupa quase 750 Gb em disco (693 + Artwork). Não façam uma compra mesmo à justa. Os novos cds que comprarem (agora online espero eu) irão ocupar este mesmo disco, pelo que no nosso caso optámos por discos de 1 TB.

 

 

Porquê 2 discos? Backups claro. Não vão querer chegar ao CD nº 999 de 1000 e chegar à conclusão que o disco avariou certo?
1 disco externo de 1 TB custa hoje cerca de 90€, um de 500 GB custa cerca de 60.


1 ou mais computadores

Não precisam ser grandes bombas. Qualquer Mac ou PC com 5 anos de idade serve para o efeito. Quanto mais lento fôr o computador, menos ousado poderá ser o vosso joguinho de passatempo.

 

 


1 leitor de CDs por computador.

Atenção! Isto é muito importante! Nada de facilidades neste ingrediente. O ideal seria um que fosse esteticamente agradável, silencioso e rápido; ora isso não existe de todo. Terá de ser um "mastronço" barulhento, resistente e, sobretudo, muito rápido.

Se o vosso computador fôr portátil comprem um leitor externo. O vosso leitor interno é provavelmente lento e frágil. Não vai aguentar a tarefa.
Caso usem um PC desktop em que seja fácil mudar as entranhas, então podem optar por um leitor interno.

Os mínimos olímpicos para a tarefa são capacidades de leitura de CDs a 20x. Menos do que isso é puro masoquismo. Caso comprem o leitor, experimentem-no primeiro com alguns CDs. Um dos leitores que usámos dizia ser capaz de ler a 24x. Era factualmente verdadeiro, mas com o inconveniente de só chegar a essa velocidade nas duas últimas faixas do CD. Muito mau.

Os dois heróis da empreitada foram um LG externo e um Samsung que encodaram à brava sem uma queixa ou afrontamento. O Samsung foi baratucho. O LG foi bem mais caro e já morava com a família há alguns meses para outras tarefas.

 



N arquivadores de cd

O "N" varia obviamente com o vosso espólio. Há arquivadores de 100, 200, 300 CDs. Mais do que 300 não é boa ideia pois o seu manuseio é pouco prático. Se decidirem não comprar mais CDs em plástico, podem escolher um arquivador quase à justa para o número de CDs.
No meu caso comprei 8 arquivadores de 300 CDs da Case Logic e ela comprou 2 de 200 + 1 de 100.
Como irão perceber, apesar de o arquivador suportar 300 CDs, na melhor das hipóteses conseguem guardar 150 em cada um.

Quaisquer 20 e poucos euros dão para comprar um dos arquivadores maiores. Há para vários gostos e feitios.

 



Software

Para encodar e sobretudo para organizar a música irão precisar de software. Há muita tralha que cumpre esta tarefa com distinção. No nosso caso usámos o iTunes por várias razões.
1. É grátis
2. É grátis
3. É grátis
Está integrado com a Gracenote media database, o que é fundamental para catalogar as músicas
Além disso, está integrado com a iTunes Store, o que é sempre útil para as compras futuras.
Finalmente, o facto de permitir partilhar a library de forma transparente com vários dispositivos determinou a nossa escolha.

Usámos mais duas peças de software com as quais só precisam preocupar-se na fase final. Como cá em casa somos do clã do mac, as referências que deixo são para OSX e não para Windows. No entanto, estou certo que haverá alternativas para esse sistema operativo do demónio.

Para as capas: Coverscout
Para calcular o BPM: bpmer

Mais à frente verão como são quase imprescindíveis.


Acção

Munidos pois de humanos, discos, leitores de CD, computadores, arquivadores e software, podemos passar à acção:

1. Ordenar os CDs
Foi um dos nossos erros. Não o fizémos. Agora dependemos do arquivo digital para sabermos onde encontrar um dos originais. E mesmo assim, temos de andar a folhear o arquivador até encontrar o que pretendemos. Não é muito grave pois teoricamente não iremos precisar de o fazer com frequência.
Usem a ordenação que mais sentido fizer para vós. Ordem alfabética, por géneros musicais, por cores, etc.

2. Arquivar
Já?
Sim, já. As estantes ficarão livres mais cedo, o plástico será reciclado mais cedo, o acesso aos CDs para o encodanço será mais fácil, o controle do que já foi encodado ou não também.
Arquivar é um processo simples. Retirar o CD, a capa e a contracapa e deitar a caixa de plástico no balde amarelo. É só isso.
Se tiverem daqueles CDs com capas de cartão, guardem um espacinho na prateleira para eles. Terão de ficar segregados do resto do clã e irão viver nas suas casas originais o resto do tempo. Infelizmente costumam ter dimensões pouco standard e não caberão nos arquivadores.
Para os restantes CDs usámos a seguinte técnica.
CDs simples ficam com a capa na bolsa superior e com a contra-capa na bolsa inferior. O CD propriamente dito fica sobre a contra-capa enquanto não estiver encodado. Após a digitalização passa para baixo da contra-capa. Assim é fácil saber o que já foi processado e o que ainda não foi.
Para os CDs duplos guardamos as capas do lado esquerdo e os discos do lado direito.

3. "Encodar"
Encodar é tão monótono e chato que convida ao erro. Os dois erros mais comuns são a duplicação e a omissão. Usem o método referido no ponto anterior para os evitar.
Escolher o formato é obviamente importante. Por isso não vale a pena falar de outra coisa que não seja o "lossless". Lossless significa no fundo que caso o desejemos, é possível reconverter uma música para a sua representação digital original, sem qualquer adulteração. MP3, WMA e outros formatos comuns vivem da supressão de frequências, pelo que se torna impossível reverter a compressão para o formato inicial.
Há pouca escolha nesta área (felizmente, digo eu). Como usámos o iTunes para a tarefa, optámos por "encodar" tudo em Apple Lossless (m4a). O iTunes não gosta da alternativa (formato Flac).
A opção por um formato lossless tem vantagens óbvias e desvantagens ainda mais óbvias. A dimensão dos ficheiros é cerca de 10x superior à de um MP3 a 320 Kb/s. Isto significa que quando quiserem passar as músicas para dispositivos portáteis como telefones, psps, etc, devem, por razões de espaço, convertê-las primeiro para MP3 ou WMA antes (sem apagar o original, claro)
Nota: este foi outro dos erros que cometemos. Inicialmente começámos a guardar as músicas em MP3 a 320Kb/s. Resultado? Umas boas centenas de CDs tiveram de voltar à mesa.

O software que escolherem vai tentar identificar o CD e assim obter toda a metadata necessária, nome do artista, do álbum, das músicas e, se possível, a própria capa original. É aqui que entra algum método e atenção por parte dos humanos operadores de serviço. No caso do iTunes, a integração está feita com a Gracenote (ex CDDB) e se bem que a taxa de sucesso a encontrar os nomes de CDs tenha sido brutal (até a abelha maia ele conhecia), o mesmo não se pode dizer com algumas capas e até com alguns nomes de álbuns. Confirmem sempre que os dados obtidos estão correctos e caso não estejam, corrijam-nos.

Cuidado com os engasganços! De vez em quando irão reparar que o leitor de CDs está algo engasgado durante o encodanço. A probabilidade é que alguma música não tenha ficado correctamente encodada. No nosso caso, trocar de leitor resolveu sempre o problema. Há quem diga que tem a ver com as preferências musicais dos leitores. Um deles não gostava mesmo de Frank Sinatra. Devia ser irlandês.

4. Corrigir nomes e géneros
Uma vez terminado o longo e tortuoso processo do encodanço, vem o longo e tortuoso processo da correcção de nomes, géneros e restante metadata.
É um processo chato. Serve também para encontrarem possíveis CDs duplicados, ajustar o género musical e, sobretudo, catalogar a localização do CD: No nosso caso usámos o campo dos comentários para identificar a pasta onde se encontra o CD. Smart!

 



5. Completar capas
Por mais recente que seja a vossa colecção, certamente irão ficar com cerca de metade das capas em branco. Há duas alternativas para resolver o problema.
A gratuita chama-se google image search. Para o iTunes há scriptalhada em applescript que se pode usar para fazer a pesquisa automática das capas no google. No entanto, o processo de captura e gravação da mesma é manual.
A alternativa pro: usar o coverscout. No site há vídeos e muita explicação sobre o seu funcionamento. O que mais me agradou (para além da interface) foi a qualidade da integração com os "fornecedores" de capas em formato digital, bem como o próprio browser com captura automática.


Além de tudo, permite fazer ajustes e alinhamentos nas imagens capturadas o que é óptimo.



 

6. Calcular o bpm
BPM = beats per minute. É um indicador (medianamente fiável) do ritmo da música. Quanto mais dançável fôr, mais fiável será o indicador e também mais útil. Para quê? Para as mixes claro!

 


 

Agora que a nossa biblioteca audiófila está toda digitalizada e com o BPM calculado o iTunes é capaz de fazer "altas passagens" entre músicas com ritmos semelhantes.
Obviamente que este passo é opcional.
Para a tarefa usei o BPMer. Há alternativas grátis por aí mas creio que não são tão fiáveis. A grande vantagem do BPMer é a de integrar directamente com o iTunes e assim guardar o valor calculado no campo existente para o efeito.

 

 

7. Esconder as vergonhas
Isto é fundamental caso a biblioteca seja partilhada (como é o nosso caso).
Assim tenho uma playlist com a minha música e outra com a música dela.
Recomendo que o façam a não ser que queiram passar pela vergonha de ouvir o "Netinho" após uma música dos New Order. Ou a Barbra Streisand mixada com os Badly Drawn Boys.

Uma nota final.
Ao usar o iTunes como arquivo principal de música acabamos por usufruir do seu sistema de partilha via DAAP. Todos os macs e pcs de casa podem assim aceder a toda a música sem restrições.

Para que o mesmo aconteça com a PS3, recomendo o medialink. Faz perfeitamente a ponte entre o iTunes e as consolas usando DLNA. E levam ainda o bónus das fotos e vídeos no bundle :) A versão equivalente para a XBOX360 é o Connect360

PS.

Não se esqueçam! Reciclem o plástico e as prateleiras!

 


14 comentários

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De Eduardo a 04.01.2010 às 12:46

US$1.39 x 1800 = 2500 euros. Preciso dizer mais? :)
Seja como for, é um serviço brutal. Não conhecia de todo. Nas minhas divagações sobre startups em Portugal até já tinha feito essa sugestão.

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